terça-feira, 12 de abril de 2011

      Quando eu era criança, a idéia da passagem do tempo me parecia tão óbvia. Bastava olhar em volta: havia pessoas de todas as idades; era tão fácil imaginar que os mais velhos tinham sido, um dia, crianças também. Essa reflexão que parece tão ingênua, não era muito comum nas outras crianças à minha volta; todos viviam intensamente o presente.
      A sensação que tenho hoje, continua sendo a de que estou cercada de crianças, apenas crianças... A dificuldade quanto à perspectiva do tempo, parece uma doença agravada atualmente. Os jovens tem uma dificuldade enorme de entender que a história dos hábitos, das sociedades em geral, é um contínuo de transformações. O desinteresse pelo conhecimento de história é patente. Acho a ausência de reflexão sobre a passagem do tempo, um sintoma de uma doença grave, que impede a compreensão do que ocorre, de ser crítico; o que só é possível com a visão em perspectiva da memória.
      Nesses tempos em que a indústria cultural dá a sua enorme contribuição, no sentido de alienar os jovens, quanto ao que foi dito acima, convidando-os a mergulharem de cabeça no presente — quando toda a atividade das pessoas foi direcionada e reduzida ao enriquecimento material "empobrecendo a vida na feroz ilusão de enriquecê-la", como disse o poeta, a arte autêntica segue sendo o lugar seguro para experenciar  o sentido da passagem do tempo. Obras literárias são os mais importantes tesouros, para se entender o passado e o presente. São tantas, mas entre elas se avulta a mais monumental, talvez, de todas: "Em busca do tempo perdido" de MARCEL PROUST.
     Às vezes ouvir uma bela e simples canção nos conduz à sensibilidade de uma outra época, que revive quando a escutamos:

Nenhum comentário:

Postar um comentário