terça-feira, 12 de abril de 2011

      Quando eu era criança, a idéia da passagem do tempo me parecia tão óbvia. Bastava olhar em volta: havia pessoas de todas as idades; era tão fácil imaginar que os mais velhos tinham sido, um dia, crianças também. Essa reflexão que parece tão ingênua, não era muito comum nas outras crianças à minha volta; todos viviam intensamente o presente.
      A sensação que tenho hoje, continua sendo a de que estou cercada de crianças, apenas crianças... A dificuldade quanto à perspectiva do tempo, parece uma doença agravada atualmente. Os jovens tem uma dificuldade enorme de entender que a história dos hábitos, das sociedades em geral, é um contínuo de transformações. O desinteresse pelo conhecimento de história é patente. Acho a ausência de reflexão sobre a passagem do tempo, um sintoma de uma doença grave, que impede a compreensão do que ocorre, de ser crítico; o que só é possível com a visão em perspectiva da memória.
      Nesses tempos em que a indústria cultural dá a sua enorme contribuição, no sentido de alienar os jovens, quanto ao que foi dito acima, convidando-os a mergulharem de cabeça no presente — quando toda a atividade das pessoas foi direcionada e reduzida ao enriquecimento material "empobrecendo a vida na feroz ilusão de enriquecê-la", como disse o poeta, a arte autêntica segue sendo o lugar seguro para experenciar  o sentido da passagem do tempo. Obras literárias são os mais importantes tesouros, para se entender o passado e o presente. São tantas, mas entre elas se avulta a mais monumental, talvez, de todas: "Em busca do tempo perdido" de MARCEL PROUST.
     Às vezes ouvir uma bela e simples canção nos conduz à sensibilidade de uma outra época, que revive quando a escutamos:

domingo, 10 de abril de 2011

BELLE ÉPOQUE

    Revi também  o filme "A idade da inocência" e daí derivou outro tema que sempre me fascinou: aquele inacreditável e encantador período da vida social e cultural da Europa, final do século XIX, início do século XX. A riqueza é tanta que meramente tocá-lo, em qualquer ponto é tocar a plena beleza (toda a pintura impressionista retrata essa época). Um expoente literário desse período é EDITH WORTHON, autora do romance homônimo (The age of innocence)  do qual resultou o filme. O incrível foi que, desse período de riqueza, tranquilidade e tantas manifestações artísticas extraordinárias, eclodiu a primeira guerra mundial, que, somando-se à segunda grande guerra (que os historiadores chamam de última batalha da primeira) produziria o mais devastador abalo que sofreu a civilização ocidental.
    Deter-se nas manifestações artísticas dessa época, é entrar em contato com uma fonte que nunca deixou de jorrar a beleza para os nossos olhos e mentes.
    Assim mais uma vez o cinema, em sua magia de nos fazer, com seus recursos, retornar a outros tempos, é um ponto de partida para o nosso conhecimento.



 CLAUDE MONET

               GEORGES SEURAT               

sexta-feira, 8 de abril de 2011

FILMES NOIR

Revi o filme "A lua dos amantes" (China moon), título original. Mais um filme na tradicional linha de filmes noir — dos relativamente recentes (1994), um dos que mais gostei. Outra retomada desse estilo (que remonta os anos quarenta) foi "Chinatown" com JACK NICHOLSON dirigido por ROMAN POLANSK nos anos setenta. Na verdade esse estilo de beleza sombria, envolvendo detetives em tramas de assassinatos, quase sempre com uma bela, fatal e envolvente mulher como protagonista também, tem origem num tipo de literatura americana: RAYMOND CHANDLER, DASHIELL HAMMETT, e o pioneiro e inventor do gênero, EDGAR ALLAN POE.

                                                
                                            

quarta-feira, 6 de abril de 2011

TRIBUTO A UM ANJO

     AUDREY HEPBURN... a terceira maior lenda feminina — sinceramente não consegui saber ainda as duas primeiras. Há, de saída, uma particularidade na atriz AUDREY, a admiração por ela sempre foi independente de gênero: tanto a amaram os homens, quanto as mulheres. AUDREY também, para além do seu talento como atriz, tornou-se sinônimo de elegância; podemos nos deliciar com esse aspécto, perseguindo-a em todos os filmes que fez.
     AUDREY a humanista, desde a juventude até ao final da vida, dedicando-se às crianças na África.

           
  

segunda-feira, 4 de abril de 2011

ROMANTISMO

   Ouvindo Dvorák, fiquei com vontade de saber um pouco mais sobre o Romantismo. Sei que esse período dentro da grande cultura ocidental é tão extraordinariamente importante que o poeta OCTÁVIO PAZ o definiu como "uma direção do espírito". Isso para dar uma idéia de sua importância e de como essa palavra (Romantismo) foi vulgarizada em nossos tempos; não se esquecendo também da consagração popular das grandes obras românticas, em todos os meios de expressão — o que tampouco justifica a referida vulgarização.
     Acho que um bom expediente agora, será ir até três grandes românticos: deixo postado dois pintores e um compositor — dois belos quadros e uma serenata romântica muito popular.

JOHN CONSTABLE


EUGÈNE DELACROIX

Serenata de SCHUBERT
 

sábado, 2 de abril de 2011

ANTONÍN DVORÁK - compositor checo do Período Romântico

 ‎"Dvořák foi um compositor muito talentoso, tanto o foi que Brahms fez o seguinte comentário: "Fico fora de mim de inveja, com as idéias que ocorrem tão naturalmente a esse camarada". De fato, Dvořák tinha a capacidade de inventar belos temas e incorporar harmonias complexas às obras que, finalmente, faziam muito bem aos ouvidos. Ele impressionou a Brahms de tal maneira, que se pode reparar que suas sinfonias têm a influência marcante de Dvořák." Wikipédia



sexta-feira, 1 de abril de 2011

Recordações

Onde está a minha madrinha?
      
        Acordei num sobressalto, como se tivesse tido um sonho, era de madrugada. Como um raio riscando o céu, fui assaltada pela imagem de minha madrinha. Onde está a minha madrinha? Por que se perdeu no tempo? O que eu fiz ou deixei de fazer prá que isso acontecesse?
       Quero a minha madrinha! Preciso saber de minha madrinha... tenho muitas lembranças dela. A última vez que a vi foi em 1983... quanto tempo!!
       Tinha um lindo nome, para uma criança que só sabia amar e gostar de ser amada, nunca imaginava que esse nome fosse um apelido: D. Pequena; dona de lindos olhos azuis, de uma simpatia que fazia brilhar ainda mais esses olhos. Mulher do S. Pedrinho, meu padrinho, que em beleza não ficava muito atrás. Mãe de duas belas filhas: a mais velha loirinha de olhos azuis, a outra, morena de olhos verdes.
        Minha madrinha era nossa vizinha, quando eu nasci. Desde o primeiro instante em que me viu se apaixonou por mim, dizia à minha mãe sempre, e insistentemente — dá essa neguinha prá mim. Uma frase que me seguiu até as minhas seis primaveras. Me recordo ainda com muita emoção daquela vozinha meio rouca, dizendo à minha mãe, tenho duas filhas, de olhos com cores diferentes, queria uma de olhos castanhos e cabelinhos assim, cor de mel, encacheados. Minha mãe sorria e dizia num modo bem à antiga — vê lá!! Minha mãe me perdoe, mas o sentimento, o amor que havia na minha madrinha era tão forte... eu sinto ainda hoje; acho que eu desejei que ela me desse mesmo; é o que eu sinto agora ao acordar de madrugada. Onde está a minha madrinha? Será que ainda posso encontrá-la?